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Caio Blinder, Veja e o Tea Party


Uma boa notícia para a imprensa brasileira é a nova coluna de Caio Blinder no site da Veja. Com certeza o Caio irá elevar a qualidade do debate político. Mesmo discordando em vários pontos (por exemplo, Caio sempre foi Obama F.C.) não há dúvida que o Caio Blinde é infinitamente melhor que 99% dos colunistas brasileiros.

E como não poderia deixar de ser, já começo discordando de muita coisa em sua coluna publicada hoje (15/09). Tirando a parte do enaltecimento do fracasso de Obama (como se as promessas dele não passassem de algo mais que promessas de campanha), Caio erra feio ao comentar sobre o Tea Party. Na verdade erra quase tudo. E o principal erro é qualificar Sarah Palin como “líder” do Tea Party.

É inegável que Sarah Palin transformou-se, pelo menos para a imprensa, um rosto do movimento. Mas nem por isso ela é uma líder do mesmo. Palin e outros como Glenn Beck são aproveitadores natos. O mais importante é ganhar dinheiro e notoriedade navegando pelo Tea Party. Palin cobra cerca de 100 mil dólares por uma “apresentação” em alguma cidade (o fato de alguém querer pagar 100 mil dólares para ouvir Sarah Palin me intriga), depois levanta o circo e passa para a próxima. Glenn Beck se especializou em escrever livros.

Mas essas pessoas não representam o Tea Party. O movimento é composto por pessoas comuns, profissionais liberais que tem responsabilidades no emprego, na família, na comunidade. São pessoas que doam seu tempo livro para organizar reuniões na Igreja, em assembleias e escolas. Não ganham um centavo com isso. Não são membros de ONGs que recebem polpudas verbas governamentais como a ACORN.

Caio, e a própria Veja, os chamam de “ultraconservadores”, até mesmo confundindo-os com um partido político, não conseguem passar do lugar comum dos detratores do movimento. Caio acertadamente afirma que os EUA hoje é um país dividido. Acontece que não foi o Tea Party que fez isso. Foi a própria campanha de Obama. E falha, também, ao não identificar que Obama só foi eleito pelo voto dos independentes que agora estão migrando não para o partido republicano, mas sim para o Tea Party.

Os próprios falcões do Partido Republicano estão com medo do movimento. É lógico afirmar que o Tea Party é muito mais próximo dos Republicanos do que dos Democratas. Mas porque o chamam de “ultraconservador” de maneira errada? Foi porque nas últimas décadas o partido Republicano se aproximou muito mais dos ideias dos Democratas que foi perdendo suas características. Hoje é correto afirmar que há muito pouca diferença entre Democratas e Republicanos. Cada um busca uma centralização política, uma interferência governamental de forma diferente. Seria inimaginável algumas décadas atrás o Partido Republicano aprovar as medidas que infligiam um duro golpe nas liberdades individuais tais quais Bush realizou.

Isso não tem nada a ver com “ultraconservadorismo”. Tem a ver com diferenças de opinião. Da mesma forma que acho errado tachar Obama de socialista. Obama não é socialista, ele é corporativista até a medula. Prova disso é só avaliar a alta no preço das ações das seguradoras de saúde dada a aprovação do seu pacote de maldades.

Os Tea Parties não recebem vultosas somas em palestras, não ficam aparecendo em programas de televisão. Eles fazem o que fazem por pura devoção ao que acreditam, e não por estarem seguindo Sarah Palin (aliás, se houvesse alguém a ser seguido esse alguém seria Ron Paul e não Sarah Palin).

Portanto não adiantam querer criar uma Quimera (Sarah Palin) para depois apresentar o Belerofonte, pois mesmo se Palin foi desacreditada e desmascarada (tomara!) o movimento irá continuar a crescer e mesmo que não gostem se tornará algo de suma importância na política americana. As prévias e eleições de agora já estão mostrando isso.

A verdade é que esse chá descerá muito amargo na garganta de muitos… Sejam Democratas ou Republicanos.

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